Uma parlamentar do Reino Unido pediu a reintegração de uma enfermeira suspensa após usar pronomes masculinos para um pedófilo condenado. O caso inclui alegações de discriminação religiosa, abuso racial e preconceito institucional no Serviço Nacional de Saúde (NHS). A informação foi divulgada por entidades ligadas ao setor e pelo grupo conservador Christian Concern.
Segundo o Christian Concern, Claire Coutinho, identificada como ministra sombra da igualdade e deputada conservadora por East Surrey, reuniu-se na semana passada, em Westminster, com a enfermeira Jennifer Melle para tratar da ação disciplinar. De acordo com o grupo, Claire afirmou que escreveria ao diretor-executivo do Epsom and St. Helier University Hospitals NHS Trust e ao Nursing and Midwifery Council (NMC) para defender a reintegração de Melle e questionar o motivo da investigação profissional.
Jennifer Melle, 40, foi suspensa em abril, um mês após tornar público seu caso, originado em um incidente de 2024 envolvendo um paciente identificado como “Sr. X”. O “Sr. X”, condenado por crimes sexuais contra crianças, foi transferido de uma prisão masculina para uma ala masculina do hospital. Embora os registros médicos o listassem como homem, a placa ao lado do leito exibia um nome feminino.
De acordo com a narrativa apresentada, Jennifer, enfermeira sênior com mais de uma década de serviço no NHS, utilizou pronomes masculinos para se referir ao paciente durante uma ligação com um médico. O paciente, que teria ouvido a conversa, reagiu dizendo: “Não me chame de Sr.! Sou uma mulher!”, proferiu palavras racistas contra a profissional e a atacou fisicamente. O paciente foi contido por funcionários.
A enfermeira cristã relatou que, apesar do episódio, manteve o atendimento e buscou aliviar a dor do paciente. Informou à equipe do hospital que, por suas crenças cristãs, não poderia se referir ao paciente como mulher, mas que usaria o nome social escolhido. Após o episódio, o hospital abriu investigação interna, emitiu advertência final por escrito, encaminhou o caso ao NMC e transferiu a profissional para outro hospital.
Em documentos do processo disciplinar, o NMC descreveu Jennifer como um possível “risco” ao público por se recusar a afirmar a identidade de gênero do paciente. Desde então, a enfermeira ingressou com ação judicial contra o NHS Trust, alegando assédio, discriminação religiosa e violações de direitos humanos. O caso é apoiado pelo Christian Legal Centre, braço jurídico do Christian Concern, e um julgamento completo no tribunal trabalhista está previsto para 2026.
A enfermeira cristã permanece suspensa com pagamento integral. Ela afirmou que buscou apoio do Royal College of Nursing (RCN) na época em que era membro contribuinte, mas que a entidade recusou o caso e aconselhou que “refletisse” para evitar situações semelhantes. Em seguida, Jennifer filiou-se ao Sindicato de Enfermagem de Darlington, que enviou carta ao Secretário de Saúde, Wes Streeting, manifestando preocupação.
Streeting divulgou nota na qual condenou o racismo dirigido à enfermeira cristã, mas informou que não interviria nas políticas de identidade de gênero do NHS nem agendaria encontro com a profissional. O Times noticiou que figuras públicas, como a autora J.K. Rowling e a ministra Kemi Badenoch, manifestaram apoio a Jennifer desde que o caso se tornou público.
Após o encontro em Westminster, Jennifer declarou estar “profundamente encorajada” pela disposição de Claire em tratar do tema. Em declaração pública, afirmou: “Não fiz nada de errado. Falei a verdade, agi profissionalmente e defendi minhas convicções cristãs. Mas parece que não há lugar para pessoas como eu no NHS de hoje”.
A enfermeira cristã também criticou as respostas institucionais ao episódio: “Senti-me abandonada, não apenas pelo meu empregador, mas pelas próprias instituições que deveriam proteger os enfermeiros. O Royal College of Nursing e o Secretário da Saúde, Wes Streeting, me deixaram enfrentar isso sozinha. Essa traição me fere profundamente”.
Andrea Williams, diretora-executiva do Christian Legal Centre, afirmou que o NHS falhou em proteger os direitos de Melle e “escolheu políticas de identidade de gênero contestadas em detrimento da realidade biológica”. Segundo Williams, “Jennifer não foi disciplinada por nenhuma falha profissional, mas por falar a verdade e agir de acordo com sua consciência”. Ela descreveu o caso como um “teste crítico” sobre liberdade de crença e expressão em instituições públicas e alegou que alguns NHS Trusts estariam desconsiderando decisões da Suprema Corte em questões semelhantes, o que classificou como ilegal.
Relatos do processo interno indicam que o NHS Trust inicialmente se recusou a investigar o abuso de cunho racial contra a enfermeira cristã. A apuração sobre o incidente foi aberta após ampla repercussão na mídia nacional, e não houve pedido de desculpas direto à profissional, de acordo com o The Christian Post.