Três ativistas muçulmanos foram acusados de vandalizar a entrada da Igreja Uncommon, uma congregação cristã não denominacional localizada em Hurst, a cerca de 16 quilômetros a nordeste de Fort Worth, no Texas. O episódio, ocorrido no início de março de 2024, levantou um debate jurídico incomum: se o vandalismo pode ser considerado uma forma de expressão protegida pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos.
De acordo com as autoridades, a pichação incluía uma suástica, vários triângulos vermelhos invertidos — símbolo associado ao Hamas e a manifestações pró-Palestina — e um palavrão direcionado a Israel. As marcas foram feitas com spray nas proximidades de um mastro que exibia uma grande bandeira israelense. Inicialmente, os danos foram estimados em menos de US$ 200, mas os promotores posteriormente avaliaram o prejuízo em mais de US$ 750.
Defesa
Durante uma coletiva de imprensa realizada em setembro de 2024, representantes do Conselho de Relações Islâmicas Americanas (CAIR) — organização classificada como grupo terrorista pelos Emirados Árabes Unidos — afirmaram que o ato estava protegido pela liberdade de expressão. “É um caso que está colocando nossos direitos da Primeira Emenda e nosso senso de justiça em julgamento”, declarou um porta-voz da entidade.
A advogada Alison Grinter Allen, que representa uma das acusadas, afirmou: “Acho que protestos, grafites, esse tipo de coisa, são a linguagem de pessoas que não são ouvidas. E por isso me compadeci deles”.
Durante o julgamento, a defesa de uma das rés, Alam, argumentou que a pichação constituía uma manifestação política e não um ataque religioso. O pastor Brad Keeran, líder da Igreja Uncommon, classificou essa justificativa como “risível”.
“O que foi discutido no primeiro dia de julgamento foi que faz parte dos nossos direitos da Primeira Emenda protestar contra o nosso governo e contra o governo de outras nações”, disse Keeran ao The Christian Post. “Então, ele estava protestando contra o governo de Israel e que as suásticas, os três triângulos virados para baixo e ‘do rio ao mar’ — nada disso era antissemita, nada disso era anti judaico, nada disso pretendia ser outra coisa senão uma declaração política contra a nação de Israel, o que é ridículo”.
Condenação
Alam foi condenada por vandalismo, mas absolvida da acusação de crime de ódio. A sentença incluiu seis meses de prisão, pagamento de US$ 1.700 em restituição e proibição vitalícia de frequentar a igreja. Relatos indicam que Venzor, outro acusado, firmou um acordo judicial, enquanto Khan aguarda o encerramento de seu julgamento.
O caso reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão nos Estados Unidos, especialmente em contextos religiosos e políticos.
O início das tensões
O pastor Keeran relatou que as tensões começaram no final de dezembro de 2023, quando decidiu substituir a bandeira de Jesus da igreja pela bandeira de Israel. “Temos um enorme mastro no campus da nossa igreja. Hasteamos uma bandeira com o nome de Jesus sobre a nossa cidade”, explicou. “Pensei: e se hastearmos a bandeira israelense?”.
Após encomendar uma bandeira personalizada de 11,5 metros de comprimento, a igreja passou a exibi-la em janeiro de 2024. Segundo Keeran, a mudança foi bem recebida internamente, mas gerou forte reação na comunidade local.
“Recebemos imediatamente uma quantidade inacreditável de feedback da comunidade; mensagens de ódio, pessoas indo até o prédio, e foi só uma avalanche de mensagens no Instagram e no Facebook, mensagens de voz e e-mails”, relatou. “Todos ficaram muito chateados por estarmos apoiando a nação de Israel”.
Reação do Estado
Apesar do ataque, Keeran afirmou que a igreja manteve praticamente as mesmas medidas de segurança. Ele, contudo, observou que o ambiente político e social se tornou mais hostil. “É ridículo pensar que pintar uma suástica e ‘F Israel’ e triângulos virados para baixo do rio até o mar seja o direito protegido pela Primeira Emenda para alguém vandalizar uma casa de culto”, declarou. “Mas com todas as bobagens que vimos de Charlie Kirk e outras coisas antissemitas que têm acontecido, acho que não é surpresa que estejamos acostumados a esse nível de antissemitismo”.
Em resposta a uma série de incidentes antissemitas registrados em março de 2024, o governador do Texas, Greg Abbott, determinou que policiais do Departamento de Segurança Pública prendessem manifestantes que promovessem discursos de ódio em universidades. Abbott citou cânticos como “do rio ao mar” — comumente usados em protestos pró-Palestina — como exemplos de discurso não protegido pela Constituição.
Em maio de 2024, advogados do CAIR, ativistas da Universidade de Houston e da Universidade do Texas em Dallas, além de membros dos Socialistas Democratas da América, ingressaram com uma ação judicial contra o governador. Eles argumentaram que a diretiva violava direitos constitucionais de liberdade de expressão e manifestação.