O ex-vocalista do grupo cristão Newsboys, Michael Tait, acusado por diversos homens de abuso sexual ao longo de 16 anos, pediu desculpas em particular a uma das supostas vítimas durante uma ligação telefônica em que admitiu ter feito um “toque inapropriado”.
“Quando te avancei pela primeira vez, te toquei de forma inapropriada, e tudo saiu do controle… isso me dominou”, afirmou Tait durante a conversa de 45 minutos, gravada em julho e divulgada pelo The Roys Report. “Tudo o que posso dizer é, do fundo do meu coração, que sinto muito, cara”.
A suposta vítima, identificada pelo pseudônimo Lucas, disse ter conhecido Tait em um festival de música em Birmingham, Alabama, em 2000, quando tinha 19 anos. Ele relatou que, ao longo dos anos seguintes, Tait — então com cerca de 30 anos — o teria manipulado e abusado sexualmente várias vezes, usando sua posição e fama na indústria musical para manter controle sobre ele.
Lucas afirmou ao The Roys Report que os abusos ocorreram entre 2002 e 2010 e que se sentia “completamente impotente para se defender”. Segundo o relato, ele decidiu gravar a conversa após Tait entrar em contato do exterior com a intenção de “fazer as pazes”.
Durante a ligação, Tait disse: “Não existe um manual sobre como fazer isso, exceto a Bíblia. Eu chorei, orei, lidei com vícios em todos os níveis. Eu menti, trapaceei, enganei, destruí meu mundo… mas tudo começou em algum lugar”.
O pedido de desculpas foi divulgado após reportagens do The Guardian e do The Roys Report detalharem alegações de múltiplos homens que acusam Tait de agressão sexual, aliciamento e uso de drogas durante duas décadas.
Tait, atualmente com 59 anos, deixou o Newsboys em janeiro e divulgou em seguida uma carta pública intitulada Minha Confissão, na qual reconheceu “toques sensuais indesejados” em homens e o uso de álcool e drogas, mas contestou alguns dos relatos apresentados.
Lucas descreveu o ex-vocalista como “carismático” e “manipulador”. Ele afirmou que o relacionamento começou como mentoria e evoluiu para coerção. “Michael usou seu poder e posição na indústria para me coagir a situações das quais eu sempre tentava me esquivar”, disse.
Segundo Lucas, o comportamento de Tait se agravou após o cantor convidá-lo para ficar em sua residência em Brentwood, Tennessee, em 2003. Ele relatou que acordou durante a noite e encontrou Tait o abusando sexualmente. “Eu congelei. Entrei no meu carro e dirigi para casa”.
Lucas declarou que, embora Tait tenha se desculpado posteriormente e negado ser homossexual, os abusos continuaram no ano seguinte. As agressões, segundo ele, cessaram apenas após seu casamento, mas o trauma permaneceu.
Quando os dois voltaram a se falar neste ano, Tait afirmou estar sóbrio desde janeiro e reconheceu que Lucas não foi a única vítima. “Perdemos tudo. A banda está acabada. A gestão está acabada. Mas foi preciso isso para me colocar de joelhos”, declarou.
Tait acrescentou que seus mentores o aconselharam a não pedir perdão, mas disse ter se sentido compelido a fazê-lo. “Você pode me enforcar na forca ou pode dizer: ‘Ei, eu te perdoo’”, disse.
Lucas afirmou ter perdoado o músico, mas disse que não teve mais contato com ele desde então. A gravação, segundo ele, foi divulgada para impedir que Tait volte a ter influência na música cristã. “Não quero que ele faça uma turnê de retorno”, afirmou. “Ele já viveu das almas dos outros por tempo suficiente. Eu gostaria de vê-lo na cadeia, para ser sincero. Não porque eu ganhe algo com isso, mas porque é o que se merece.”
Em agosto, uma das supostas vítimas, identificada como Shawn Davis, afirmou estar movendo uma ação contra Tait por meio do Departamento de Polícia de Brentwood, no Tennessee, onde uma investigação preliminar foi iniciada. Davis declarou à revista People que Tait o teria estuprado em 2003, após drogá-lo, e que está colaborando com as autoridades para reunir provas.
“Estamos tentando controlar isso e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para derrubá-lo”, disse Davis. “No fim das contas, o objetivo é vê-lo ir para a prisão. Precisamos que todas as vítimas possíveis se apresentem. Elas merecem saber que não são as únicas e merecem contar suas histórias.”
Em julho, o vocalista da banda Skillet, John Cooper, classificou o caso como “uma vergonha e uma tragédia para a Igreja”. Ele pediu que líderes e artistas do meio cristão condenem publicamente os atos.
“Precisamos de uma condenação veemente desses atos, não de uma condenação de pessoas. Não estamos condenando pessoas. Estamos condenando as ações das pessoas. De forma veemente, sem pedir desculpas, não recuamos”, declarou.
De acordo com o The Christian Post, Cooper acrescentou: “É impróprio pular direto para a mentalidade de que temos que ser amorosos, que somos todos pecadores, que todos falhamos e que não podemos julgar. Sim, somos todos pecadores. Há um momento para isso… mas há categorias que não podemos ignorar”.