A integração de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) no estudo bíblico representa uma transformação significativa em relação aos métodos tradicionais, algo que exige extrema cautela por parte dos cristãos, segundo especialista.
Embora o acesso aos textos sagrados já tenha exigido deslocamentos prolongados ou leituras sob iluminação precária em períodos anteriores, atualmente essa realidade convive com o surgimento de assistentes digitais, como a IA, que podem apresentar riscos semelhantes.
Com base nisso, especialistas alertam para a necessidade de compreensão das limitações inerentes a essas tecnologias. Salatiel Bairros, por exemplo, engenheiro de dados com especialização em Inteligência Artificial, explica que é fundamental distinguir entre o campo amplo da IA e os Modelos de Linguagem de Grande Porte (LLMs), como ChatGPT, Gemini, Llama e Claude.
“As LLM são capazes de gerar textos, estudos, interpretações, mas não conseguem fazer exegese”, afirmou Bairros. “Expressam alguma coisa parecida com isso, mas não, necessariamente, uma boa interpretação bíblica”.
O principal risco identificado pelo especialista reside no uso inadequado das ferramentas. “O objetivo da IA é gerar um texto que seja o mais provável que você quer ler. Ou seja, ela pode te levar a fazer interpretações do texto bíblico totalmente fora do seu contexto real”, alertou. Bairros acrescentou que “quem não tem uma boa base, pode ser induzido a ir para qualquer lugar”.
Quanto ao caráter não emocional das respostas geradas por IA, o especialista não identifica obstáculo substancial. “Ser frio ou não, importa pouco. O mais importante é saber pesquisar corretamente o conteúdo”, avaliou.
Dados quantitativos demonstram crescente adoção dessas ferramentas. A assistente virtual “Esperança”, desenvolvida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, registrou mais de 400 mil usuários desde seu lançamento, com média de 10 mil interações diárias.
O aplicativo Bible AI, desenvolvido pela empresa brasileira MR Rocco Internet, ultrapassou 50 mil downloads na versão Android, permitindo que usuários realizem perguntas e recebam respostas sobre passagens bíblicas.
Orientações para a utilização
Especialistas recomendam práticas específicas para o uso responsável dessas tecnologias:
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Verificação sistemática da fonte do conteúdo, preferindo aplicativos vinculados a instituições reconhecidas
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Utilização da IA como recurso complementar, não substituto da leitura bíblica direta
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Confrontação de interpretações geradas por IA com traduções e comentários teológicos estabelecidos
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Distinção clara entre opiniões geradas algoritmicamente e textos considerados sagrados
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Preservação de dados pessoais durante a utilização
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Manutenção de práticas tradicionais como leitura pessoal, estudo em grupo e orientação pastoral
Plataformas Disponíveis
Diversas aplicações especializadas encontram-se em funcionamento no mercado brasileiro:
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Bléia: projeto experimental da Assembleia de Deus em São José dos Campos (SP)
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Bible AI: permite questionamentos sobre personagens e temas bíblicos
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BibleStudy: oferece chat em português para diálogo sobre textos sagrados
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Salomão IA: inclui análise de termos originais em hebraico e grego
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Cristão 24h: voltado para estudo ministerial e devocional
A combinação entre ferramentas tecnológicas e práticas consolidadas de estudo representa o caminho mais equilibrado, segundo analistas do setor. Com: Comunhão.