Estado Islâmico ataca hospital e degola mães que amamentavam

Um ataque atribuído a um grupo rebelde a uma maternidade de um hospital cristão no leste da República Democrática do Congo resultou na morte de cerca de 20 pessoas, entre elas mães que amamentavam e seus bebês.

Autoridades locais responsabilizaram as Forças Democráticas Aliadas (ADF, na sigla em inglês), grupo armado afiliado ao Estado Islâmico, pelo massacre.

O ataque ocorreu na noite de sexta-feira na aldeia de Byambwe, no território de Lubero, província de Kivu do Norte, onde o grupo atingiu um centro de saúde administrado pelas Irmãzinhas da Apresentação. De acordo com relatos oficiais, homens armados avançaram rapidamente pela vila, matando pacientes em seus leitos e incendiando o prédio.

O administrador local, coronel Alain Kiwewa, disse à agência Associated Press, no sábado, que parte das vítimas foram encontradas dentro do hospital. “Mulheres que estavam amamentando foram brutalmente assassinadas e encontradas com a garganta cortada em seus leitos hospitalares”, afirmou Kiwewa. Segundo ele, das 17 pessoas mortas contabilizadas inicialmente, 11 eram mulheres e seis eram homens.

As autoridades informaram ainda que o mesmo grupo armado lançou ataques contra outras vilas nas proximidades, na mesma noite, embora o número de vítimas nesses locais ainda não tenha sido confirmado. Testemunhas relataram que a maternidade foi uma das áreas mais atingidas, com relatos de mulheres e recém-nascidos queimados vivos durante o incêndio.

O prédio do centro de saúde foi destruído, e casas ao redor foram saqueadas e incendiadas. Sobreviventes passaram a receber atendimento em áreas abertas, enquanto as Irmãzinhas da Apresentação aguardam avaliações de segurança para retomar os serviços, de acordo com informações divulgadas pela agência católica de notícias Aleteia.

O padre Giovanni Piumatti, missionário italiano que serviu por mais de 50 anos na Diocese de Butembo-Beni e que hoje reside na Itália, declarou que 15 pessoas foram mortas dentro do hospital e outras cinco foram assassinadas nas proximidades. Segundo ele, os atacantes estavam fortemente armados e se deslocaram rapidamente por Byambwe antes de recuar para a floresta. Casas próximas à clínica foram incendiadas após os agressores se apoderarem de suprimentos médicos.

Piumatti destacou que ataques dessa natureza ocorrem com frequência na região e costumam receber pouca atenção internacional. As Forças Democráticas Aliadas atuam no leste do Congo há mais de duas décadas e são conhecidas por ataques recorrentes contra escolas, igrejas, fazendas e centros de saúde. Formado a partir de facções rebeldes em Uganda no fim da década de 1990, o grupo ampliou sua presença no leste congolês e, em 2017, declarou lealdade ao Estado Islâmico.

Dados do projeto Armed Conflict Location and Event Data (ACLED) indicam que a ADF é atualmente a ameaça mais letal para civis na República Democrática do Congo, sendo responsabilizada por mais de 1.000 mortes em 2023. Em agosto, combatentes da ADF mataram pelo menos 52 pessoas em uma série de ataques que se estenderam por vários dias, segundo a missão de paz das Nações Unidas no país.

Em julho, o grupo atacou uma igreja católica na província de Ituri durante uma vigília, resultando na morte de quase 40 fiéis, muitos deles mulheres e crianças. O episódio levou o papa Leão XIV a condenar a violência durante a Audiência Geral de 30 de julho; na ocasião, ele pediu orações pelas vítimas e exortou líderes internacionais a darem maior atenção à crise no leste congolês.

Moradores e líderes religiosos afirmam que civis seguem entre os mais afetados pela instabilidade persistente em Kivu do Norte e Ituri. A região abriga dezenas de grupos armados, incluindo as Forças Democráticas Aliadas e o movimento rebelde M23, que, segundo diversas fontes locais e internacionais, contaria com apoio vindo da vizinha Ruanda.

De acordo com o The Christian Post, apesar de iniciativas diplomáticas em curso, o leste da República Democrática do Congo registra pouco avanço em direção a uma pacificação duradoura.