Mendonça é 'detonado' por elogiar indicado de Lula para o STF

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que dias atrás chamou a atenção do país por criticar o “ativismo judicial” praticado por alguns dos seus colegas na Corte máxima da Nação, dessa vez tomou uma enxurrada de críticas por elogiar ninguém menos que Jorge Messias, atual advogado-geral da União que agora foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar uma vaga no STF.

Através das redes sociais, Mendonça não apenas elogiou a “qualificação” de Messias enquanto jurista, mas deixou claro que fará lobby (influência) para ele junto ao Senado Federal, Casa Alta do Congresso responsável por sabatinar e oficializar os indicados pelo presidente ao Supremo.

“Parabenizo o Min. Messias pela indicação ao Supremo. Trata-se de nome qualificado da AGU e que preenche os requisitos constitucionais. Assim, também cumprimento o presidente da República por sua indicação. Messias terá todo o meu apoio no diálogo republicano junto aos Senadores”, postou Mendonça.

A reação à publicação de André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o STF, foi imediata, e não por acaso: Jorge Messias é criticado pela oposição devido às suas posições alinhadas à esquerda, vínculo com a liderança do Partido dos Trabalhadores e atuação considerada persecutória contra a direita nacional, enquanto advogado.

Em resposta à publicação do ministro, por exemplo, o jornalista Eli Vieira compartilhou uma matéria da CNN Brasil, lembrando que “este homem [Messias] que você parabeniza tentou criminalizar o jornalismo investigativo contra a censura.”

Também em resposta a Mendonça, uma seguidora lhe questionou, no X: “Como que em um dia o Sr. denuncia o enfraquecimento da democracia e o tal estado de direito e no outro parabeniza a ascensão justamente de alguém ligado ao processo que destruiu esse Estado de Direito?”.

Juíza exilada

Uma das reações mais contundentes contra André Mendonça partiu da “juíza exilada” Ludmila Lins Grilo, que foi compulsoriamente aposentada pelo Conselho Nacional de Justiça por causa das suas críticas ao que considera desvios do Supremo. Dos Estados Unidos, onde mora atualmente, ela reagiu:

“Min. André: o Sr. Messias é atualmente um sancionado internacional (perda de visto) por apoio/participação no regime ditatorial brasileiro. O sr. deve (ou deveria) saber que a AGU não pode ser utilizada para perseguir inimigos políticos, nem servir como escritório de advocacia privada dos amigos, o que tem acontecido corriqueiramente, inclusive perseguindo aquele que lhe indicou para o cargo de ministro do STF. Seu endosso reputacional público a esta figura é lamentável.”

Em outra publicação, Ludmila destacou que André Mendonça, de fato, não precisaria manifestar publicamente seu endosso à indicação de Lula, algo que ele acabou fazendo de forma antecipada aos demais ministros do STF.

“Não havia qualquer necessidade de o min. Mendonça endossar publicamente Jorge Messias – muito antes, pelo contrário: o correto, em sua posição, seria abster-se de fazer qualquer comentário sobre uma indicação que ainda será objeto de sabatina, especialmente em se tratando de uma figura como Messias que, evidentemente, não é merecedora de qualquer endosso”, escreveu ela.

“Esquerdista”

O deputado federal evangélico e líder do Partido Liberal na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante lembrou que, muito embora se apresente como evangélico, Jorge Messias tem se posicionado politicamente em favor dos interesses da esquerda nacional, o que coloca a sua posição em relação às pautas cristãs em dúvida.

“Com a indicação do Jorge Messias para o STF, caso ele seja aprovado pelo Senado, ele tem 45 anos, serão mais 30 anos de um ESQUERDISTA PETISTA, julgando e ATRASANDO o Brasil com seus valores de esquerda!”, reagiu o deputado.

A crítica à indicação de Jorge Messias para o STF não partiu apenas da oposição. Até mesmo o analista Merval Pereira, da GloboNews, canal do Grupo Globo apelidado pelos críticos de “assessoria de imprensa” do governo Lula, reagiu negativamente. O comentarista associou a decisão aos padrões típicos de regimes autoritários.

“Você partir do princípio de que o presidente tem que colocar pessoas da sua confiança pessoal no Supremo é partir do princípio de que você quer neutralizar o Supremo. É assim que governos autoritários mantêm o Supremo e continuam autoritários”, disse Merval.