Na manhã de quinta-feira, 27 de novembro, uma cerimônia inédita ocorreu no Monte do Templo em Jerusalém, considerado o local mais sagrado para o judaísmo. Três homens identificados como membros da tribo de Levi ascenderam ao local e entoaram o salmo diário, restaurando um ritual interrompido desde a destruição do Segundo Templo pelas legiões romanas no ano 70 da Era Comum.
Em declaração, os participantes descreveram a experiência: “Hoje tivemos a oportunidade de realizar, ainda que parcialmente, nosso sonho como filhos de Levi: entoar o cântico de Deus no monte sagrado. Graças a Deus, já existem diversas organizações de levitas se preparando para o dia em que poderemos voltar à plataforma. Convidamos nossos irmãos levitas a buscar informações e se unir a nós nessa missão.”
O evento foi organizado pelo movimento Beyadenu para o Monte do Templo, que promove iniciativas para fortalecer a conexão judaica com o local. Akiva Ariel, diretor-executivo interino da organização, afirmou: “Desde a destruição do Segundo Templo, o cântico dos levitas não ecoava no Monte do Templo. Este momento expressa o anseio e a profunda ligação do povo de Israel com seu lugar mais sagrado, de forma respeitosa, modesta e santificadora.”
Contexto Histórico e Religioso
Segundo a tradição bíblica, os levitas foram designados por Deus para funções específicas no culto do Templo. O texto de 1 Crônicas 25:1 descreve que “Davi e os comandantes do exército separaram para o serviço os filhos de Asafe, Hemã e Jedutum, que profetizavam com liras, harpas e címbalos”.
Os ensinamentos rabínicos indicam que o canto levítico era componente essencial do serviço, a ponto de sacrifícios realizados sem acompanhamento musical serem considerados incompletos.
Historicamente, os músicos do Templo eram selecionados entre os levitas. O Zohar, texto fundamental da cabala, explica que o nome “Levi” significa “acompanhar”, e sua função musical era conduzir os fiéis a uma maior proximidade com Deus. Durante o período dos Templos, os levitas cantavam nos 15 degraus que ligavam o Pátio das Mulheres ao Pátio dos Israelistas, recitando os 15 Cânticos de Ascensão do Livro dos Salmos.
A tribo de Levi, que inclui figuras como Moisés e Arão, foi escolhida para dedicar-se inteiramente ao serviço divino, sem receber porção de terra em Israel. Os kohanim (sacerdotes) constituem um subgrupo descendente de Arão, enquanto os demais levitas eram responsáveis pela guarda e pela música no Templo. A condição de levita, que representa aproximadamente 4% da população judaica, é transmitida patrilinearmente e confere honras especiais na vida religiosa.
Significado Contemporâneo
A iniciativa transcende uma reconstituição histórica, representando uma afirmação da identidade judaica em um local onde atualmente a expressão religiosa pública é limitada por acordos e políticas vigentes. As vozes dos três levitas, ecoando após 1.955 anos de silêncio, simbolizam para muitos o desejo de renovação da presença judaica plena no local.
O evento insere-se em um movimento mais amplo de reavivamento do interesse pelo Monte do Templo dentro de setores da sociedade israelense. Como registrado na tradição, o Gaon de Vilna, proeminente sábio do século XVIII, ensinou que a música do Templo seria o último segredo revelado antes da era messiânica, atribuindo ao canto levítico um profundo significado escatológico. Com informações: Israel365