Avanço ou estragos? A polêmica 'Teologia da Prosperidade'

A teologia da prosperidade, doutrina que associa contribuições financeiras e fé a bênçãos materiais, permanece como um dos debates mais polarizados no cristianismo brasileiro. Impulsionada por igrejas neopentecostais desde os anos 1980, sua prática divide líderes religiosos entre críticas à instrumentalização da fé e defesas de fundamentos bíblicos.

O pastor Wagner Scatamburgo (Assembleia de Deus/SP) atribui a origem da doutrina ao norte-americano Essek William Kenyon (1867–1948), criticando a “confissão positiva” – ideia de que declarações de fé geram prosperidade. Para ele, a interpretação seletiva de textos como Marcos 11:24 e Malaquias 3:10 promove “uma fé utilitarista, centrada no homem”.

Scatamburgo relata consequências práticas da teologia da prosperidade: fiéis endividados após venderem bens para cumprir “votos financeiros”, além de processos judiciais contra igrejas.

“Prometer riqueza como sinal de fé é irresponsável num país com salário mínimo de R$ 1.525”, reforça o pastor João Gomes Rodrigues (Igreja Apostólica Vinde/SP), apontando que campanhas como “Sexta-feira da Prosperidade” transformam a fé em “instrumento de consumo”.

Ambos enfatizam o desvio do foco espiritual: “Jesus disse que é mais importante reconciliar-se que entregar ofertas” (Mateus 5:23-24), destaca Rodrigues.

Defesas

Em contraponto, o apóstolo Nilton Brito (Igreja Missão Mundial/SP) defende supostas bases bíblicas para a teologia da prosperidade, citando João 10:10 (“vida em abundância”) e Salmos 1:3 (“tudo prosperará”). Ele reconhece, porém, que “escassez nem sempre indica falta de fé”, remetendo ao Salmo 73, onde justos questionam a prosperidade de ímpios.

Brito ressalta equilíbrio: “A bênção financeira é instrumento de testemunho, como na igreja primitiva, onde ‘não havia necessitados’ (Atos 4:34)”. Para ele, textos como *2 Coríntios 9:8-11* mostram a prosperidade como “consequência de obediência e generosidade”.

O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, reafirma em pregação recente o “direito legítimo à prosperidade”, baseando-se em *3 João 1:2* (“que tudo te vá bem”). Ele distingue riqueza de idolatria ao dinheiro:

“É ele que traz conforto e alimento. Impossível viver sem, a não ser como mendigo”. Macedo encerra com João 10:10, sublinhando “vida com abundância” como promessa cristã.

Evolução 

Rodrigues observa movimentos de revisão: algumas igrejas adotam abordagens moderadas, enfatizando “vida abundante em todas as áreas” (Rick Warren, Max Lucado), enquanto outras mantêm práticas questionáveis. Brito reconhece que o excesso gera distorções, mas insiste: “A igreja deve falar sobre prosperidade – com equilíbrio”.

Para críticos, o núcleo da discordância permanece: quando a busca por bênçãos materiais suplanta valores como arrependimento e humildade (Marcos 14:7), o evangelho perde sua essência. Com: Comunhão.