Escola orienta pais evitarem que filhos vejam ‘Guerreiras do K-Pop’

Uma escola primária ligada à Igreja Anglicana, no sul da Inglaterra, orientou famílias a desencorajarem os filhos de cantar músicas do filme Guerreiras do K-Pop, alegando que a temática demoníaca da produção entra em conflito com seus valores cristãos. A medida provocou críticas de pais que consideraram a decisão excessiva e injusta com as crianças que apreciam o longa.

A Lilliput Church of England Infant School, em Poole, no condado de Dorset, enviou um comunicado às famílias pedindo que os alunos não apresentassem nem cantassem, durante o horário escolar, músicas do filme da Netflix Guerreiras do K-Pop, conforme noticiou o The Telegraph.

Na mensagem, o diretor interino, Lloyd Allington, afirmou que as referências a demônios presentes na obra eram “profundamente desconfortáveis” para alguns membros da comunidade cristã da escola. Ele argumentou que, embora os pais tenham liberdade para decidir o conteúdo consumido pelos filhos em casa, o colégio tem a responsabilidade de preservar um ambiente alinhado à sua identidade religiosa. Segundo o diretor, para parte dos cristãos, menções a demônios, ainda que em contexto ficcional ou humorístico, são espiritualmente perturbadoras e podem ser interpretadas como incompatíveis com o ensino de que as crianças devem rejeitar o mal.

Guerreiras do K-Pop, lançado em junho, mistura temas adolescentes com elementos sobrenaturais. O enredo acompanha um grupo feminino fictício de K-pop que, secretamente, combate demônios, além de apresentar a boy band demoníaca Saja Boys, cuja música trabalha temas como tentação e sedução. A produção tornou-se o filme mais assistido da história da Netflix e originou uma trilha sonora de grande sucesso comercial.

A canção Golden liderou as paradas britânicas por dez semanas e foi interpretado pela banda da Força Aérea Real na troca da guarda no Palácio de Buckingham, enquanto a faixa Soda Pop foi apresentada no programa Strictly Come Dancing, da BBC.

A compositora EJAE, que dá voz a uma das personagens principais e escreveu diversas canções da trilha, já havia comentado sua formação cristã e o sentido da música Your Idol em entrevista à Forbes. Na trama, a canção é interpretada pelos Saja Boys e aborda a obsessão de fãs que os artistas buscam explorar para controlá-los. EJAE afirmou que a letra dialoga com a ideia de idolatria, lembrando que, em sua educação cristã, idolatrar algo é considerado pecado. Ela descreveu a proposta como uma versão “distorcida” da frase “eu serei o seu ídolo”, ressaltando o caráter inquietante da música.

Na carta enviada inicialmente, Allington classificou o episódio como uma oportunidade para discutir a diversidade de crenças dentro da comunidade escolar e refletir sobre como apoiar aqueles que, por motivos de fé, se sentem desconfortáveis com determinados conteúdos. Ele enfatizou que o pedido da escola tinha como objetivo reafirmar seu compromisso com um ambiente cristão, e não controlar as preferências pessoais das crianças fora do contexto escolar.

A orientação, no entanto, foi mal recebida por parte dos pais. Em declaração à BBC, um deles, que se identificou como ateu, afirmou que considerou a medida “ridícula” e “um pouco impositiva”. Segundo ele, sua filha e colegas vinham se divertindo ao cantar as músicas juntos e as apresentavam em atividades extracurriculares, o que via como uma prática inocente e positiva para a autoconfiança das crianças. Outro responsável classificou o episódio como inédito e sugeriu que a escola pode ter se sentido pressionada a assumir uma posição pública, embora tenha ressaltado que, em geral, mantém boa avaliação da instituição.

Diante da repercussão, a escola revisou o teor da comunicação. Em uma segunda carta, divulgada na segunda-feira, Allington reconheceu que muitas famílias avaliam o filme de forma positiva, destacando as mensagens sobre coragem, bondade e trabalho em equipe. Ele agradeceu aos pais que compartilharam suas perspectivas e afirmou que a escola passou a reconhecer o valor que parte da comunidade enxerga nos temas da produção.

O diretor esclareceu ainda que a instituição não estava pedindo que os pais impedissem os filhos de assistir ao filme ou de apreciar suas músicas em casa, e que os docentes não transmitiriam essa orientação dentro da sala de aula. O foco, explicou, será auxiliar os alunos a compreender que colegas podem ter crenças diferentes e que o diálogo respeitoso faz parte dos valores cristãos da escola.

De acordo com o The Christian Post, a Lilliput Church of England Infant School, administrada voluntariamente pela Diocese de Salisbury e que atende crianças de 4 a 7 anos, informou por fim que não aplicará sanções disciplinares a alunos que cantarem músicas do filme ou utilizarem produtos relacionados.