O número de mortos em decorrência de inundações e deslizamentos de terra em larga escala na ilha indonésia de Sumatra subiu para pelo menos 700, segundo a Agência Nacional de Gestão de Desastres do país. Milhares de pessoas continuam desaparecidas ou desabrigadas, enquanto equipes de emergência enfrentam dificuldades para alcançar comunidades isoladas.
A agência informou nesta segunda-feira que 464 pessoas ainda eram consideradas desaparecidas e 2.600 ficaram feridas, configurando um dos desastres naturais mais letais dos últimos anos na Indonésia, de acordo com o jornal The Star. A estimativa oficial aponta que mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas e aproximadamente 570 mil foram forçadas a deixar suas casas, muitas delas abrigadas em prédios públicos sem acesso a água potável e eletricidade.
As autoridades registraram o maior número de mortes na província de Sumatra do Norte, onde pelo menos 283 corpos haviam sido recuperados até segunda-feira. Em Sumatra Ocidental, o total de mortos chegou a 165, enquanto a província de Aceh, no norte, contabilizou 156 óbitos. As três províncias relatam pontes destruídas, rodovias danificadas e falhas na infraestrutura elétrica, fatores que dificultam operações de resgate e distribuição de ajuda.
Em Tapanuli Central, um dos distritos mais afetados em Sumatra do Norte, moradores descreveram um cenário de caos e escassez de alimentos. Uma residente chamada Maysanti relatou que caminhões com ajuda humanitária não chegaram à aldeia e que a população passou a disputar produtos básicos. “Acabou tudo; nossos estoques de comida estão se esgotando”, disse. “Até macarrão instantâneo está sendo disputado. Nossa comida acabou; precisamos de comida e arroz. O acesso a esses recursos está completamente cortado”, relatou à BBC.
Na região de Pidie Jaya, em Aceh, as águas das enchentes chegaram ao nível dos telhados. Uma moradora, Arini Amalia, descreveu a força da enxurrada como “um tsunami” e afirmou que sua avó, que vive na região há muitos anos, nunca havia presenciado devastação semelhante. Na região central de Aceh, milhares de pessoas formaram filas diante de um prédio governamental na noite de domingo para carregar celulares ou tentar contato com familiares, após a instalação de dispositivos de internet Starlink pelas autoridades locais para restabelecer a comunicação.
A frustração com a resposta governamental ao desastre tem crescido, com críticas a atrasos na distribuição de alimentos e a falhas logísticas. Organizações humanitárias relatam dificuldade para circular por estradas cobertas de destroços e trechos de rodovias que desabaram, enquanto entraves burocráticos retardam a chegada de suprimentos. Imagens das áreas afetadas mostram bairros inteiros cobertos de lama, troncos de árvores empilhados contra construções e veículos presos em vias destruídas.
No ponto turístico conhecido como Pontes Gêmeas, em Sumatra Ocidental, máquinas pesadas estão sendo usadas para remover a lama e procurar pessoas desaparecidas. Uma moradora chamada Mariana, que perdeu vários familiares, acompanhava à beira da estrada o trabalho de escavadeiras na remoção dos escombros.
As inundações foram provocadas por chuvas torrenciais na semana passada, que fizeram rios transbordarem e encostas desmoronarem, inundando aldeias e isolando distritos inteiros. A destruição é mais severa em áreas montanhosas e litorâneas, onde deslizamentos de terra bloquearam o acesso de veículos pesados. Equipes de emergência do governo central, das forças armadas e de agências locais de gestão de desastres foram mobilizadas, mas em muitos casos helicópteros e motocicletas são os únicos meios para alcançar sobreviventes.
Especialistas afirmam que as inundações estão ligadas, em parte, a uma rara tempestade tropical formada sobre o estreito de Malaca. O ciclone, chamado Senyar, trouxe ventos fortes e chuvas intensas para Sumatra e para diversas províncias no sul da Tailândia, informou a Al Jazeera. Em Aceh e no norte de Sumatra, os cortes de energia continuam sendo generalizados, embora o fornecimento elétrico tenha sido parcialmente restabelecido em Sumatra Ocidental.
Em toda a região do Sudeste Asiático, o sistema de tempestades de maior magnitude associado a esse evento matou mais de 1.140 pessoas na Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Malásia. Meteorologistas atribuem as chuvas extremas à persistência do fenômeno La Niña, que tem intensificado as monções e aumentado a frequência de precipitações fortes. O tufão Senyar, que atingiu diretamente a Indonésia, também passou nas proximidades da Malásia, onde causou a morte de pelo menos duas pessoas.
O presidente Prabowo Subianto visitou, na segunda-feira, áreas atingidas pelas enchentes no norte de Sumatra. Ele reconheceu que algumas estradas permaneciam intransitáveis, mas afirmou que as equipes de emergência estão empenhadas em restabelecer o acesso e mitigar os impactos da crise.