Durante passagem pelo Brasil, o arqueólogo bíblico e líder judeu messiânico Miguel Nicolaevsky, que também é arqueólogo e residente em Israel há 28 anos, abordou em entrevista temas como o desconhecimento de igrejas brasileiras sobre Israel, a legitimidade do Estado moderno e o papel dos cristãos no atual cenário geopolítico.
Nicolaevsky, judeu messiânico, pastor em Modiin (cidade a 30 km de Jerusalém e Tel Aviv), coordena o portal “Caté Torah”, dedicado a apoiar Israel. Ele revelou que existem mais de 150 congregações messiânicas no país, totalizando cerca de 30 mil fiéis, com 20 comunidades só em Jerusalém. Sua vinda ao Brasil combinou tratamento médico com agendas ministeriais em igrejas batistas, assembleianas e outras, em dez estados.
1. Desconhecimento sobre Israel nas Igrejas
Questionado sobre lacunas de compreensão sobre Israel, Nicolaevsky declarou:
“Em algumas igrejas, encontro pessoas que não compreendem o papel de Israel na Bíblia; não entendem sua eleição como nação, nem como a oliveira na qual os cristãos foram enxertados”.
Para combater desinformação, ele criou a palestra “Respostas para perguntas difíceis”, abordando acusações como “genocídio” ou “apartheid” contra Israel.
2. Legitimidade do Israel Moderno
Sobre debates que separam o “Israel bíblico” do Estado moderno, foi enfático: “O Israel de hoje é o mesmo Israel da Bíblia”.
Ele justificou sua afirmação com Romanos 11:15 (“se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?“), explicando:
“A ressurreição depende da admissão [aceitação] de Israel por Deus. Isso mostra que Israel, mesmo não redimido ainda, permanece o povo eleito”.
3. Críticas a Israel e Consequências
O judeu messiânico alertou sobre posturas críticas contra o Estado judaico: “A crítica a Israel é destrutiva até mesmo para um servo de Deus”. Citando passagens bíblicas, ele listou alguns exemplos, como segue:
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Elias (perdeu o ministério após reclamar do povo);
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Moisés (não entrou na Terra Prometida);
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João Batista (foi decapitado após chamar Israel de “raça de víboras”). E concluiu: “Israel pode errar, mas não cabe a nós sermos seus juízes. Devemos ser instrumentos de bênção”.
4. Papel da Igreja no Conflito Atual
Nicolaevsky defendeu ações práticas: “A igreja deve orar por Israel, como ordenam os Salmos: ‘Orai pela paz de Jerusalém’. E abençoá-lo, cumprindo a promessa a Abraão: ‘Abençoarei os que te abençoarem’”.
5. Vida em Israel e Diversidade
Sobre convivência inter-religiosa: “Israel tem 2 milhões de muçulmanos árabes, 200 mil católicos, 200 mil ortodoxos, além de drusos e bahá’ís. Todos com os mesmos direitos”, disse ele, destacando a integração vigente no país:
“Drusos são subgenerais do exército; beduínos atuam como rastreadores”.
O judeu revelou que ele, seu filho e filha serviram ou servem no exército israelense: “Servimos para defender nossa casa. Minha filha de 16 anos ingressará daqui a dois anos”.
6. Evangelismo em Israel
Nicolaevsky explicou particularidades quanto ao evangelismo em Israel: “Não usamos panfletagem ou cultos públicos. Evangelizamos por adesivos, testemunho pessoal e internet – que tem alcançado até judeus ultraortodoxos”.
Ao final da entrevista para o Guiame, Nicolaevsky atribuiu sua permanência em Israel a um chamado divino baseado em Isaías 50:4-5: “Deus me tocou para unir-me a esta nação e trazer uma mensagem de consolo. Meu propósito é reconduzir Israel à Palavra bíblica raiz”.
Nota: Judeus messiânicos são judeus que reconhecem Jesus como Messias, mantendo práticas culturais judaicas. Segundo o “Relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo” (2024), Israel garante liberdade de culto a todos os grupos, embora conversões ao cristianismo enfrentem resistência social em comunidades ortodoxas.