O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi agraciado com o título de doutor honoris causa em ciência política, desenvolvimento e cooperação internacional pela Universidade Pedagógica de Maputo, na África, na segunda-feira (24).
A cerimônia ocorreu durante uma visita oficial do mandatário brasileiro a Moçambique, que marca os 50 anos de relações diplomáticas entre as duas nações. Na ocasião, o brasileiro fez um discurso em tom populista, focando a temática da educação em um contexto de pobreza versus riqueza.
O reitor da instituição moçambicana, Jorge Ferrão, fundamentou a concessão da honraria na trajetória pessoal de Lula. “O impacto intangível dos quadros moçambicanos formados no Brasil, majoritariamente em seus mandatos presidenciais, enraíza o futuro científico e tecnológico do nosso país”, declarou o reitor durante a solenidade.
Ferrão acrescentou que “a Universidade Pedagógica de Maputo abre as portas com o coração cheio porque a nossa gratidão é suprema e nunca se esgota”, mencionando que a homenagem representava também outras instituições de ensino moçambicanas.
O reitor recordou que em 2012, durante visita anterior de Lula, foi lançado o Projeto Sonho, programa de educação à distância para professores do ensino básico que beneficiou mais de 200 educadores moçambicanos através da colaboração entre instituições dos dois países.
Discurso presidencial
Ao receber a honraria, o Presidente Lula defendeu o investimento em educação como prioridade governamental. “Os recursos colocados na educação não são gastos, mas o melhor investimento que um governo pode fazer”, afirmou, sendo interrompido por aplausos da plateia.
“Eu sei quantos abusos a gente sofre por não ter tido a oportunidade [de estudar]. É por isso que a educação, para mim, é uma obrigação”, declarou o presidente, acrescentando que “não é possível a gente não compreender que um jovem formado é muito mais respeitado, vai arrumar um emprego melhor, ganhar melhor e poder viver melhor”.
Lula reconheceu a dívida histórica do Brasil com o continente africano, que segundo ele “ajudou a forjar a alma do país durante 300 anos de escravidão”, e mencionou que o programa de cooperação de graduação para estudantes estrangeiros completa seis décadas de existência no Brasil.
“A cooperação internacional só é justa quando é feita com base na solidariedade e no respeito à dignidade e à soberania de cada país. É nesse modelo que o Brasil acredita”, afirmou o presidente, finalizando com a declaração: “Não há democracia verdadeira onde o povo não tem acesso ao conhecimento e não há desenvolvimento quando as riquezas se concentram em poucas mãos”.
Em dado momento, Lula se colocou como alguém que não aceitaria entrar no Céu sem satisfazer o que, em sua opinião, seria o cumprimento de justiça.
“Nós não somos invisíveis. Nós queremos ser tratados com respeito. Nós não queremos tirar nada de ninguém. A gente quer apenas ter o direito de ter a oportunidade de uma empregada doméstica ter sua filha na universidade, na mesma universidade da patroa. Que um filho de pedreiro possa ser engenheiro”, disse ele.
“É esse mundo que eu busco. E é por esse mundo magnífico que eu luto. Por isso eu disse para vocês que eu vou viver até 120 anos. Porque enquanto eu não ver o mundo justo, eu não vou parar de lutar. E eu acho que não teria lugar para mim no céu. E eu não sei ficar bonzinho quando se trata de cuidar do povo pobre, abandonado e deserdado no planeta”, completou.