Spotify permite mensagens diretas e abre brecha para aliciadores

Um importante grupo de vigilância contra a exploração sexual pediu ao Spotify que suspenda o lançamento de seu novo recurso de mensagens diretas (DMs). O alerta foi feito após a empresa anunciar, na semana passada, a criação do recurso “Mensagens”, voltado a permitir conversas individuais entre usuários, com compartilhamento de músicas, podcasts e audiolivros.

Segundo o Spotify, a novidade será gratuita para assinantes premium com 16 anos ou mais. A decisão provocou críticas do Centro Nacional de Exploração Sexual (NCOSE, na sigla em inglês), que manifestou preocupação com a possibilidade de predadores utilizarem o recurso para aliciar menores.

Críticas do NCOSE

Haley McNamara, diretora executiva e de estratégia do NCOSE, pediu que adolescentes não tenham acesso às mensagens diretas. “O Spotify deveria interromper o lançamento do novo recurso de mensagens diretas, visto que as mensagens diretas são a principal forma de predadores contatarem adolescentes. O Spotify tem um histórico de não priorizar a segurança infantil, tendo levado oito anos apenas para adicionar controles parentais básicos (Spotify Kids)”, afirmou.

McNamara lembrou que já houve registros de aliciamento e abuso envolvendo crianças na plataforma. O NCOSE também destacou que o Spotify foi incluído em sua “Lista dos Doze Sujos” de 2024, que reúne entidades acusadas de falhar na proteção de menores contra a exploração.

De acordo com o grupo, foram identificados casos de menores e adultos solicitando e compartilhando pornografia hardcore, imagens de automutilação, deepfakes e material que aparentava abuso sexual infantil.

Resposta do Spotify

Um porta-voz do Spotify informou que, desde o início de 2025, a plataforma iniciou a implementação de verificações de idade para o uso de recursos restritos, como o de mensagens. A empresa disse ter recebido contribuições de especialistas do Conselho Consultivo de Segurança durante o desenvolvimento do recurso.

Segundo o porta-voz, só será possível iniciar conversas com amigos, familiares ou contatos que já tenham trocado conteúdo no aplicativo. O recurso ainda prevê que os usuários aceitem ou recusem mensagens, com possibilidade de bloqueio e denúncia de contas ou conteúdos.

A plataforma afirmou que realiza monitoramento das mensagens em busca de material de exploração sexual infantil e que analisará o conteúdo de chats denunciados por violações às regras de uso.

Divergências sobre idade

Apesar das medidas anunciadas, McNamara questionou a efetividade das verificações de idade. Segundo ela, os testes estão limitados a “mercados selecionados” e, em geral, aplicados apenas a usuários de 18 anos ou mais. A diretora acrescentou que as declarações públicas do Spotify sobre o tema estariam mais relacionadas ao consumo de vídeos musicais do que ao uso das mensagens.

“Embora o Spotify possa ter planos secretos para eventualmente melhorar a restrição de idade em mensagens diretas, atualmente não há nenhuma evidência pública de que isso seja verdade”, disse McNamara. Ela defendeu que a empresa estabeleça a idade mínima de 18 anos para o recurso e adote um sistema rigoroso de verificação.

A diretora citou dados da Internet Watch Foundation, publicados em março de 2024, que apontaram que três em cada cinco casos de extorsão sexual online envolvem jovens de 16 e 17 anos. Para McNamara, permitir que adolescentes recusem mensagens não garante proteção adequada.

“Predadores costumam usar mentiras, perfis falsos ou bajulação para contornar o julgamento de um menor e atraí-lo para trocas prejudiciais”, afirmou. “Instamos que reavaliem a implementação de mensagens diretas, reforcem as proteções e priorizem verdadeiramente a segurança infantil. Se tomarem essas medidas, seremos os primeiros a aplaudir”, concluiu Haley McNamara, de acordo com o The Christian Post.