Jece Goes, fundador e líder do Ministério Canaã em Fortaleza, destacou obstáculos na contratação de cantores gospel para eventos da igreja, atribuindo-os aos altos valores de cachê. Durante pregação na instituição, Goes afirmou que negocia há dois meses com artistas, mas enfrenta solicitações entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por apresentação.
A dificuldade ocorre em um setor em plena expansão. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Música (ABPM), a música gospel movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2023, representando 2,5% do mercado fonográfico nacional.
Dados do Ecad mostram crescimento consistente: em 2022, arrecadações de direitos autorais do gênero atingiram R$ 98,6 milhões, alta de 23% ante 2021. O IBGE aponta que 31% dos brasileiros se declaram evangélicos (2022), base de consumo relevante para o segmento.
“Temos contatado cantores diariamente. Os valores são incompatíveis com nossa realidade”, declarou Goes. Segundo o pastor, até artistas com propostas mais acessíveis exigem bandas completas – seis a dez integrantes –, estrutura que classifica como alheia aos princípios do ministério.
Goes mencionou ainda que alguns cantores gospel solicitaram relatórios prévios com estimativas de público. “Isso é uma vergonha. Onde está o respeito ao Evangelho?”, questionou, criticando o que chamou de “comercialização do evangelho” devido aos valores de cachê e exigências.
Em contraponto ao que identificou como busca por “visibilidade e fama”, o líder religioso reafirmou sua missão: “Deus não me chamou para pregar para multidões. É para um, para dois, para muitos… Quem reúne o povo é Deus”, concluiu, enfatizando atuação por “propósito, não contratos”.
Com 600 rádios dedicadas (15% do espectro nacional – Kantar Ibope Media), a música gospel amplifica pautas conservadoras e serve como canal de engajamento comunitário.
Letras que abordam resiliência e esperança ressoam especialmente em periferias, onde igrejas funcionam como redes de apoio. Essa expansão, contudo, gera tensões entre profissionalização e missão religiosa, como destacam críticas de líderes eclesiásticos ao modelo comercial. Com: Metrópoles.